sábado, 24 de novembro de 2007

INFÂNCIA



No meio-dia branco de luz uma voz que aprendeu

a ninar nos longes da senzala – e nunca se esqueceu

chamava para o café.

Café preto que nem a preta velha

café gostoso

café bom.

(trecho de Infância de Carlos Drummond)

domingo, 11 de novembro de 2007

O moinho de café


Mói grãos e faz deles pó.


O pó que a minh'alma é


Moeu quem me deixa só.


(Fernando Pessoa. Quadras ao Gosto Popular)

Retrato de Fernando Pessoa
1954, óleo sobre tela, 2010 x 2010 mm
Quadro de
Almada Negreiros

segunda-feira, 13 de agosto de 2007

Palavra Profana

Penso a poesia
Presa na alma,
Porque, da pena,
Palavra não salta.

A palavra é divina.
A palavra é feminina.
A palavra cega.
A palavra peca.

O pé é incerto,
E pesada, a mão
que planta o verso
no papel-chão.

A forma é imperfeita,
E falha a precisão.
Não é palavra sagrada
É profanação.

Autor: Jadir Pereira

domingo, 12 de agosto de 2007

Psicossomático

Leio um verso de Bandeira,
Sopro pneumaticamente o café
De novo, a dor no peito.
Outrora chamaria Dr. Asclépio
Como de costume, diria:
- Sofres uma patologia psicossomática.
Tem sido assim
desde que Eurídice partira
tenho tomado café amargo.
A ausência desanima a alma,
ao corpo soma-se a dor,
destoa estoicamente o miocárdio,
mas o café jaz frio;
meu corpo encontra a sua alma.
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